Desde 1970, quando Friedman publicou seu célebre artigo The Social Responsibility of Business is to Increase Its Profits no The New York Times Magazine afirmando que o grande objetivo dos executivos é aumentar o lucro, nós já trabalhávamos, aprendíamos e ensinávamos baseados estruturalmente com o foco no lucro.
A inovação, já presente há muitos anos no cotidiano das empresas mas hoje perseguida, incessantemente e sistematicamente, não altera a máxima de Friedman mas a coloca em outra perspectiva de discussão.
Alguém discorda que o desempenho corporativo deve ser focado e medido pelo grau de eficiência com que o capital é utilizado? Essa é a pergunta chave que Christensen faz ao identificar o Dilema do Capitalista (HBR, 2014). Christensen é o mesmo Clayton Christensen do Dilema do Inovador...
Alguém discorda que o desempenho corporativo deve ser focado e medido pelo grau de eficiência com que o capital é utilizado?
Dentre as empresas que inovam, as mais bem sucedidas são notadamente as que o fazem de maneira que sustente o negócio – inovações de sustentação…. Incrementais... Substituindo modelos por novos e melhores (“inovações de sustentação em Christensen, The Innovator’s Solution).
Quando se analisa e compara profundamente os diferentes tipos de inovações, inevitavelmente trazemos em check nossas inteligentes decisões baseadas especialmente em retorno sobre o patrimônio liquido, retorno sobre o capital investido, lucro por ação, EVA, etc, incluindo no máximo o custo de capital ajustado a risco na análise.
Investimentos em diferentes tipos de inovações, incrementais e disruptivas, por exemplo, afetam as empresas de diferentes formas porém, em geral, estas inovações são avaliadas sob as mesmas métricas… tornando as inovações incrementais muito mais atraentes.
Mas algo que noto com relativa frequência é que na verdade o retorno real, baseado nestes indicadores citados acima não são acompanhados ao final dos projetos com tanto rigor quanto em seu início e quando o são, geralmente ficam aquém das expectativas.
Os indicadores de sucesso tal como conhecemos estimulam o aumento do lucro, redução de custos, remoção de ativos do balanço, tudo a um menor tempo possível. O foco é claramente em inovações “previsíveis”, no curto prazo, focadas nos atuais clientes. Não há como discordar que o processo de alocação de recursos tal como praticado pelas organizações favorece radicalmente as inovações que sustentam o negócio tal como é ou está e não as que superem grandes desafios, de longo prazo.
O Brasil, e grande parte do mundo, vive uma onda de fomento às inovações especialmente as de ruptura, por meio de recursos governamentais subsidiados porém, apesar disso, os executivos de médias e grandes empresas encontram dificuldades de explorar estes incentivos.
Entendo que os principais desafios para que os executivos, que acreditam nas inovações de longo prazo, disruptivas, que alterem ou criem modelos de negócios ou que explorem novos mercados, estão em:
Não permitir que a lógica financeira engula os planos estratégicos. Para isso precisamos aprender a responder algumas perguntas:
Quando é mais adequado usar as métricas financeiras tradicionais, tais como TIR (taxa interna de retorno) e VPL (valor presente liquido) e quando elas nos desorientarão ao se avaliar projetos de inovação?
Que indicadores para estimativas de fluxos de caixa futuros podem ser usados na avaliação de um investimento voltado para um novo mercado?
Convencer seus pares dos benefícios destas inovações para o negócio;
Convencer os investidores a manterem seu capital investido por mais tempo nas empresas (hoje o tempo médio é 10 meses);
Todas estas questões ainda são novas mesmo no meio acadêmico, das melhores escolas.
Ainda iremos deixar muitas oportunidades passar em função de nossas visões distorcidas por previsões baseadas em indicadores financeiros tradicionalmente estabelecidos ou mesmos por cobrança por retorno de investimentos no curto prazo a qualquer preço, feitas tanto pelos investidores como pelas demais lideranças na organização.